quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Pais Natais suicidas

Quando se fala apenas na alegria e solidariedade trazida pelo Natal, quase ninguém aborda o lado negro desta quadra festiva. Falaremos hoje do drama vivido nesta época cheia de significado por aquele que é, talvez, o maior símbolo do Natal e o mais reconhecido pelas crianças do todo o Mundo. Falamos obviamente do Pai Natal.
Esta figura mítica é hoje a base de uma indústria que move milhões. O grande problema é que não há lugar para toda os profissionais. A Associação Portuguesa de Pais Natais Profissionais aponta o dedo ao Governo. Segundo Nicolau Neve, presidente da APPNP, "o governo não acautelou os direitos deste grupo profissional ao permitir o acesso ás funções de Pai Natal de profissionais não acreditados e com formação não adequada. Isso é particularmente ofensivo quando observamos a usurpação das nossas funções por Pais Natais temporários, biscateiros que julgam que basta colocar umas barbas postiças e gritar HO HO HO nos centros comerciais. De notar que os Pais Natais inscritos na APPNP, a única entidade acreditada para o acreditamento dos Pais Natais em Portugal exige, por exemplo que as barbas brancas sejam originais e não permite o uso de barbas postiças." Esta situação está a levar ao desespero os Pais Natais mais antigos nas funções uma vez que "os centros comerciais optam por serviços mais baratos destes profissionais não reconhecidos, não dando importância à qualidade dos serviços prestados" ainda segundo Nicolau Neve. Os profissionais no desemprego estão a perder qualidade de vida, sendo este facto particularmente visível no que diz respeito à saúde. A APPNP garante aos seus profissionais um seguro de saúde que permite a monitorização regular do estado clínico dos seus afiliados. Rudolfo Azevinho, Pai Natal no desemprego, afirma "esta barriga que aqui vêm é genuína. Nos 20 anos de exercício profissional nunca usei nenhuma almofada por baixo do fato vermelho. Mas isto é uma profissão de risco, de desgaste rápido pois esta barriga traz consequências: problemas de coluna e joelhos, colesterol e problemas gástricos".
Estas razões levam a que cada vez mais Pais Natais optem por acções radicais, entre as quais a mais popular é o suicídio. É cada vez mais comum observarmos Pais Natais pendurados nas janelas dos prédios, nas varandas e nas árvores. As posições dos seus corpos transparecem o desespero em que se encontram e aquela corda a que se agarram simboliza o fino fio de esperança a que ainda se agarram. Mas a vida continua, indiferente, ao apelo desta gente que clama por ajuda. As pessoas passam, olham e seguem o seu caminho tal a normalidade destas acções. A taxa dos que se soltam em direcção ao abismo é cada vez maior, os que se mantêm agarrados ao fio da esperança e da vida passam, muitas vezes, dias, semanas expostos à intempérie sempre abandonados, sempre sós, sempre desesperados.

Artigo do Jornal "Barbas Brancas"


Ou haverá Coisa Mais Parva que Pendurar um Pai Natal Insuflável no Parapeito da Janela?

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