sábado, 30 de outubro de 2010

Quem manda é o coração

Há muita coisa que me irrita. Por exemplo, neste momento, irrita-me o PS e o PSD. Irritam-me os políticos que colocam os interesses partidários acima dos interesses dos partidos. É assim que eu defino esta "negociata" do Orçamento de Estado. Mas vá lá que ontem já chegaram a acordo...
Mas também me irrita o olhar dos outros quando me emociono. Hoje aconteceu. Fiquei com os olhos vidrados num baptizado, porque baptizava a filha de uns pais que tinham perdido outra menina (funeral ao qual eu presidi). Lembrei-me do funeral e no sofrimento daqueles pais misturada com a alegria que estavam a sentir naquele momento do Baptizado. Olhei para a mãe, de olhos vidrados, e os meus copiaram-nos. E pronto... que hei-de fazer? Sou assim! E não posso? Há gente que tema mania de me dizer que não posso ser tão sentimental ou sensível.

Se choro num funeral (ainda aconteceu domingo passado quando nos despedíamos do António, de 48 anos) - "porque chorou?, Não pode ser tão sensível?"

Se vejo um cão abandonado e me apetece chorar - "Não pode ser assim?!"

Se me emociono num casamento de alguém ao ver a alegria deles e a emoção deles - "Não pode ser tão sentimental!"

Digam-me uma coisa: Não posso porquê? Há alguma lei que proíba um homem de chorar? Ou alguma que diga que os Padres não exteriorizar emoções? É assim tão estranho eu reagir de forma sentimental à partilha de sentimentos?
Por favor, não me digam mais isso. Não quero mudar isso. Choro e rio-me as vezes que eu quiser. Podem-me colocar regras, podem-me indicar o que devo ou não fazer. O quando me são impostas por quem manda procuro cumpri-las. Mas nos meus sentimentos, nas minhas emoções e na forma como as exteriorizo ninguém manda. Nem eu. Quem manda é o coração.

HOJE


XXXI Domingo do Tempo Comum C


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

GRITO

Eu queria ler nas estrelas
Poemas de alguém maior
Ter a confiança p’ra caminhar
Sobre as águas sem temor.
Como o simples timoneiro
Que traça o rumo com a sua mão
Quero alcançar um porto seguro
Onde leve esta missão:
Hajam vozes p’ra este grito
que bradem alto porque eu acredito
que a força que faz o mundo girar
está na coragem dos Homens que lutam
e na vontade daqueles que anseiam
Por construir com o amor do Pai
sonhos e esperanças p’ra partilhar.
Como filho predilecto
que faz as delícias de qualquer pai,
Assim Te retribuo o afecto
espalhem a notícia e gritai:
Há sempre alguém que nos acompanha
Que olha por nós
Que nos ajuda a escalar a montanha
e não nos deixa sós.
E se ao fim do dia
me sentir sozinho
guardo estas palavras
retomo o caminho
porque ainda há quem precise saber:
que, em cada passo que avanço,
cada gesto que abraço,
fecho os olhos e é Ele quem vejo sorrir;
Se eu erro, Ele perdoa,
se me esqueço não me abandona
Eis o exemplo de amor a seguir!

Fátima

Quando me sentei no sofá já era tarde. Peguei no comando da televisão e fiz zaping (não se se escreve assim). Parei na RTP, porque estava a emitir de Fátima. Já só apanhei a parte final. Não fez mal, porque confesso que dos momentos mais marcantes e impressionantes de Fátima é precisamente o final da noite das grandes peregrinações. Esta foi mais uma dessa noites: o silêncio de uma multidão que enche o recinto enquanto a imagem de Maria regressa à Capelinha... E os rostos que, à luz das velas, revelam histórias de vida que só a fé ilumina...

Casamento ou comédia?

Muitos casam-se "na Igreja" mas NÃO "pela Igreja".
Vestem-se de gala, celebram o rito, mas NÃO recebem o "sacramento do matrimónio" porque estão fechados a ele, não há um atitude de abertura. Muitos nem sequer sabem que existe um sacramento e o que este significa, celebram - como muito - um "matrimónio civil" com velas, flores e música. Nada mais. Muitos é o que procuram, o adorno.
Esta REALIDADE leva-me a afirmar e a repetir que há muitissimos mais "matrimónios nulos" do que os que se solicitam e declaram. Um pinguin que comungasse receberia o sacramento da Comunhão? Não, porque não têm capacidade nem atitude, falta o sujeito válido, isto é, quantas vezes recebemos sacramentos como pinguins? E eu continuo a perguntar: Pode celebrar-se uma "matrimónio sacramental" (a católica) sem conhecer nem querer o sacra-mento? Estes "matrimónios sem sacramento" não deveriam ser admitidos nem reconhecidos pela Igreja, da mesma maneira que não se reconhece o "matrimónio civil".
Se existe falsidade, ignorância, inconsciência ou involuntariedade sobre a espiri-tualidade do sacramento, não há religião, não há sacramento, não pode haver matrimónio religioso. Quantos há que só se dão conta quando se sentem agarrados como coelhos numa inamovivel armadilha! E não porque se sintam atados pela outra parte, mas pela inflexibilidade e incompreensão das normas religiosas. Quantos fogem da institução eclesial e da sua rigidez para poder respirar! Que paradoxo doloroso!
Alguns objectarão que, ainda assim, o matrimónio é válido porque há um contrato objectivo e público. Pode. Mas então seria um simples "matrimónio civil" festejado numa Igreja. E muitas vezes nem isso porque, além de não existir o sacramento, falta a suficiente maturidade (vontade, liberdade e consciência) para que esse contrato seja válido. Pode casar-se uma criança de dez anos? Teóricamente não. No entanto, a minha experiência diz-me que há muitas "crianças" que se casam sem mais nada do que a força do costume, das carências ou do impulso biológico. Infelizmente, as leis (civis e religiosas) fixam-se na maturidade biológica e nem tanto na sicológica e espiritual. Assim fundam-se famílias como currais e não como lugares cristãos.
Quando surgem as rupturas, não se pode aplicar aos divorciados menor compreensão que a aplicada a estes "matrimónios de faz de conta" celebrados dentro duma Igreja. O rigor, a severidade e a maturidade devem exigir-se ANTES do casamento e não DEPOIS do reconhecimento do erro. Seria um disparate MANTER o matrimónio "formali-zado" entre uma rã e um corcodilo. E mais ainda querer NEGAR os "erros iniciais dos contraentes" com a culpabilização da religião.
A solução para os divorciados católicos (de boa fé) passa por facilitar o acesso à "declaração oficial de nulidade" (reconhecimento de erros básicos na origem) depois de um meditado e resumido "processo de consciência" e não através dos larguissimos trâmites processuais actuais à imitação da justiça civil. Com a actual estructura jurisdiccional da Igreja seria praticamente impossível atender o aumento de processos de nulidade.
A "nulidade matrimonial" não é uma questão de leis rigidas, inflamados advogados, armadilhas processuais, nem de dinheiro por baixo da mesa (as pessoas estão muito engañadas neste ponto porque as taxas eclesiásticas são mínimas). É uma "questão de consciência", de discernimento, de ver se houve liberdade, vontade e consciência suficientes ou um fatídico ERRO, uma pura comédia inconsciente. A missão da Igreja deveria ser AJUDAR a discernir em consciência se existiu ou não matrimónio. Mais do que um tema jurídico e processual é um tema sociológico e espiritual. Mais do que juizes e advogados deveriam intervir sociólogos e mestres espirituais.
Não se trata de fazer desaparecer os divórcios enchendo a manga com nulidades para todos. Trata-se de abrir os olhos à REALIDADE e compreender que muitos pessoas “casam-se” por um erro próprio ou induzido. Não parece justo que existam soluções mais fáceis para um assassino em série que se arrepende, do que para quem reconhece o ERRO de ter "formalizado" um casamento equivocadamente. Para o assassino arrependido, o perdão sem condições. Para o erróneamente casado que quer rectificar o seu erro e a sua vida, excomunhão perpetua. Não parece sequer lógico.
Este é um dos temas pendentes da Igreja que a herarquia conhece muito bem. Por isso eminentes vozes desta mesma herarquia pedem um Concilio para aprofundar e dar soluções a estes nossos irmãos que sofrem ao estarem "oficialmente" afastados. A nossa hierarquia também reconhece que a protecção do matrimónio e família católicos passa por proporcionar uma formação séria e profunda ANTES do casamento e uma assistência continuada DEPOIS.
Claro que uma coisa é ver os problemas e outra dar-lhes solução.
A lentidão dos nossos dirigentes é proverbial.

Padres Inquietos

Fica o testemunho

Uma lição de humanismo, uma lição de engenho, uma lição de coragem. Provando que o homem, quando quer e precisa é um ser extraordinário de inesgotáveis virtudes, de entre elas a sua capacidade intelectual para se adaptar às exigências e vicissitudes em que a vida, aqui e ali, nos faz tropeçar.

XXIX Domingo Tempo Comum

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Chuva

Chover copiosamente é uma expressão magnífica e reconfortante, sobretudo quando se atravessa um longo período de seca.
Mas entre nós, chover copiosamente não é magnífico nem reconfortante. É, antes, uma chatice e descobre esta forma piegas, trágica mesmo, com que lidamos com a chuva. Já agora, com o frio. Frio e chuva, então, é o apocalipse. E a tragédia abateu-se ontem sobre nós. Choveu a cântaros, e foi o suficiente para eu, antes de sair de manhã para as Missas, desengavetar a minha parka cor de laranja da Throttleman. O mais engraçado do dia de ontem foi apreciar a expressão verdadeiramente trágica das pessoas a entrar nos restaurantes, a circularem apressadamente
dos carros para a Igreja, e vice versa, a comentarem esta "chuva horrorosa", "que horror não se pode andar na rua".
Entretanto, hoje, leio o Correio do Minho, e vejo o estado caótico em ficou ontem a minha cidade de Braga. É engraçado que na cidade basta chover uns litrito de água seguida e é só inundações. Mas tenham paciência... as inundações de ontem foram boas. É que as primeiras chuvadas de Outono e enxurradas limpam a ruas, pois arrastam beatas, papeis, cocós de cão, pó, escarros secos e folhas para as sarjetas. E o que limpa as sarjetas? Cá está... são as inundações. O lado positivo daquilo que se passou ontem.
Para quem tem medo da chuva e do frio o melhor, mesmo, é tomar uns chás de limão com mel e uns benurons, porem um casaquinho e mais um cobertor na cama. Bom Outono.

Sentido de família

No passado sábado, antes da Missa, veio ter comigo com um papelinho na mão com uma morada na cidade de Braga. "o meu pai está mal e gostava de se encontrar contigo. Pediu que lhe entregasse isto". Hoje, no fim do almoço, fui lá. Quando tocou com os seus olhos em mim deixou escapar as lágrimas. Trocamos um abraço e partilhamos e sofá. Confesso que pensei que me queria pedir algum favor ou algum sacramento. Não. Afinal, queria despedir-se de mim, pois está muito doente e não queria morrer sem se despedir. A minha vontade era chorar com ele e resignar-me aquele momento. É daqueles momentos que podemos ficar sem palavras. Mas não podia ficar calado. Apertei as minhas mãos nas suas e procurei, mais do que animá-lo, confortá-lo. A conversa estendeu-se por algumas horas. Vim de lá tranquilo, mas com uma revolta terrível. Revolta por ter estado com alguém em que a sua maior mágoa é os filhos não se entenderem nem falarem. Este homem morria feliz se os filhos esquecessem aquilo que os separa. Uma coisa tão simples. Senti revolta por nós filhos, muitas vezes, não termos noção do que os pais sofrem com as desavenças dos filhos. O amor precisa da tolerância, precisa do silêncio, do esquecer, da compreensão, do dar o braço a torcer. Estou a escrever isto e a pensar no meu irmão. Graças a Deus, e a nós também, que deixamos vencer sempre aquilo que nos une, pois prevalece sobre aquilo que nos separa. Uma coisa tenho a certeza: os meus pais nunca vão sofrer por verem os filhos separados.