No passado sábado, antes da Missa, veio ter comigo com um papelinho na mão com uma morada na cidade de Braga. "o meu pai está mal e gostava de se encontrar contigo. Pediu que lhe entregasse isto". Hoje, no fim do almoço, fui lá. Quando tocou com os seus olhos em mim deixou escapar as lágrimas. Trocamos um abraço e partilhamos e sofá. Confesso que pensei que me queria pedir algum favor ou algum sacramento. Não. Afinal, queria despedir-se de mim, pois está muito doente e não queria morrer sem se despedir. A minha vontade era chorar com ele e resignar-me aquele momento. É daqueles momentos que podemos ficar sem palavras. Mas não podia ficar calado. Apertei as minhas mãos nas suas e procurei, mais do que animá-lo, confortá-lo. A conversa estendeu-se por algumas horas. Vim de lá tranquilo, mas com uma revolta terrível. Revolta por ter estado com alguém em que a sua maior mágoa é os filhos não se entenderem nem falarem. Este homem morria feliz se os filhos esquecessem aquilo que os separa. Uma coisa tão simples. Senti revolta por nós filhos, muitas vezes, não termos noção do que os pais sofrem com as desavenças dos filhos. O amor precisa da tolerância, precisa do silêncio, do esquecer, da compreensão, do dar o braço a torcer. Estou a escrever isto e a pensar no meu irmão. Graças a Deus, e a nós também, que deixamos vencer sempre aquilo que nos une, pois prevalece sobre aquilo que nos separa. Uma coisa tenho a certeza: os meus pais nunca vão sofrer por verem os filhos separados.
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