quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Partilhado por um colega sacerdote a propósito das vocações sacerdotais

Não vou falar do que penso. Vou só constatar a realidade. Tal como a constata o meu olhar. Digam que é apenas um olhar, que eu respeito. Mas é um olhar que existe.O número de paróquias não diminui. Só diminui o número de pessoas em cada paróquia. Por outro lado, o número de sacerdotes diminui substancialmente. Logo, aumenta o número de paróquias e de serviços por sacerdote.Geram-se novas angústias nos sacerdotes. Cansados. Esgotados em correrias, em faltas de compreensão, em multiplicar de exigências da parte das pessoas. Estigma do funcionário/profissão. Celibato. Falta de tempo para a oração. Para si próprio. O problema acresce porque alguns não aguentam e desistem. Lembro o mais recente colega que já não está ano activo. Estou a pensar noutro que já teve o casamento civil marcado. O problema agrava-se porque diminui o número de sacerdotes e a regressão aumenta. Muda o número de participantes nas eucaristias. As pessoas emigram de diversas formas. Os paroquianos diminuem. Um problema de natalidade, sobretudo. Missas com menos gente. Há-as com 30, 40 pessoas. Não podiam juntar-se?!Muda muita coisa. Fora e dentro da igreja. Novos confrontos. Novas necessidades. Um evangelho a actualizar. Mas as atitudes dos cristãos continuam as mesmas de há vinte ou dez anos atrás, quando tinham o pároco na paróquia, sem grandes serviços, disponível para ouvir, para presidir a todas as celebrações, litúrgicas ou não, com tempo para inventar festas e procissões, para confessar, para conviver com as pessoas, embora se calhar hoje os padres convivam mais com as pessoas, digo eu. Recorrem ao padre quando precisam, e exigem-lhe, porque se entregou gratuitamente em favor do reino, que esteja na gaveta ao dispor. Abre-se e fecha-se a gaveta consoante as necessidades. Ate aceito. É para as necessidades que ele tem sentido. Mas, se têm celebração da Palavra é porque não deviam ter. Se a procissão foi mais curta o padre faz-nos perder a fé. Se o casamento não é assim ou assado, este padre não presta. Se vai exigir-se uma catequese organizada, coerente e séria, são exigências, e desistimos. Se faz algo formativo, não é para mim, pois também não tenho tempo. Se não faz, não se dedica às pessoas. Não quer saber. Se é obrigado a acabar com alguma coisa, não quer trabalho. Se não possui tempo, não quer saber de nós. Se come com este, tem preferidos. Se não come em casa de ninguém, não é sociável. As atitudes são as mesmas de há vinte anos. E depois a Igreja não evolui.Sabem de um coisa? De vez em quando, ocorre-me a tentação de desejar ter nascido uns vinte anos antes.
Primeiro pára, senta-te e pensa o que pretendes de bem. Depois, pondera, não as hipóteses teóricas, mas as possibilidades reais. Então, entre duas realidades, podes escolher a melhor. Discernir não é descobrir a única hipótese boa, é decidir, entre coisas boas, qual é a melhor, a mais construtiva para si e para os outros. Se é fácil ou difícil, isso não conta.

Kierkegaard

" Aquilo que leva ao começo é o espanto.
Aquilo pelo qual se começa é uma decisão."

Futuros Bispos

Provavelmente esta postagem vai ser polémica e vai haver quem não goste. Mas acho isto interessantíssimo e resolvi partilhar os sintomas daqueles padres que aspiram, descaradamente, ao episcopado.

Sintomas mais comuns:
  • Trabalham muito a imagem em ambientes eclesiásticos;

  • Oferecem-se para qualquer cargo na diocese, desde que este possa acrescentar mérito e dê visibilidade exterior;

  • São "politicamente correctos";

  • Normalmente evitam opinar sobre os temas fracturantes da Igreja e da sociedade;

  • Preferem falar sobre temas "fechados" da doutrina católica;

  • São alérgicos às questões da doutrina social da Igreja. Preferem temas de moral sexual, sempre na linha rigorista do Magistério;

  • "Profetismo" não é uma palavra que faça parte do seu vocabulário;

  • São, necessariamente, conservadores.

Normalmente, e salvo raras excepções, é assim que "nasce" um novo bispo.

Reunião do Clero

Hoje tive uma daquelas reuniões, sabem daquelas que ficam bem ter na agenda mas que nada nos dizem... Nós padres também temos dessas coisas. Recebemos convites para participar nisto ou naquilo. Afinal a reunião não foi mais do que um encontro. É bom encontrar rostos que não vemos há tanto tempo, faz bem partilharmos a amizade e "criar laços" mas o essencial, sim o essencial da questão passou ao lado. Foi a reunião mensal do Clero do Arciprestado. Fico sempre com aquela sensação que em vez de reunidos, devíamos estar mais vezes unidos. E isto passa para a vida das Comunidades. Há tanta reunião e, muitas vezes, pouca união. Mas elas são precisas… mas a união também.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Comunhão na mão

Nos últimos tempos muitos sacerdotes têm convidado os fiéis a comungarem na mão. Eu assim o fiz. Confesso que a Gripe A não foi o único motivo que me levou a tal, mas ajudou. Penso que é a melhor forma dos fiéis comungarem. Nas Comunidades que sirvo maior parte das pessoas comungam na mão e quero deixar aqui uma palavra de gratidão pela compreensão, mas também partilhar um dos pontos da nota pastoral do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa: Lumen, 1975, na página 460:
Quanto à comunhão na mão, pastores e fiéis devem preocupar-se em realizar o gesto de maneira digna e significativa. Para tanto, e segundo a antiga tradição, o ministro colocará o Pão consagrado na mão do fiel, o qual comungará antes de regressar ao seu lugar, por não parecer conveniente que o faça enquanto caminha, devendo ter ainda todo o cuidado com os fragmentos que eventualmente se desprendam.

Carta de Deus

Olá …

Hoje, como sempre, tenho olhado muito por ti. É verdade que não tens sentido a minha presença…quantas vezes já te ouvi protestar: - Não sinto nada, não sinto que Deus esteja comigo. Já temos falado sobre isto, ter Fé não é sentir, é confiar…confias em mim?
Ao olhar para ti vejo-te inquieto(a), mas também um pouco apático(a). Pareces incomodado(a) com o mundo…não percebes as notícias que ouves: guerras, histórias que julgavas impossíveis, crises, hipotecas e dívidas acumuladas, tanto sofrimento escondido…Nem imaginas como eu sofro, não há dor nenhuma que não me magoe profundamente, sou também eu que choro em tantos quartos escuros, sou também eu que me angustio e tenho medo…Sou também eu que te toco nessa tua incapacidade de compreender o mundo.
Lembras-te do dia em que te despediste daquele teu amigo…o que gritaste comigo! Estive contigo nesse grito que é próprio de quem ama, e estive contigo em todos aqueles gestos que te ajudaram a reencontrar o caminho…
Estou contigo quando espontaneamente te invade o espanto da beleza, quando agradeces as coisas simples, quando tocas na vida dos outros e os ajudas a descobrir horizontes… a paz e alegria que te preenchem nesses momentos são o maior sinal da minha presença.
Estou contigo no mais profundo dos teus sonhos. Fui eu mesmo que os criei. Cada vez que imaginares um projecto pelo qual vale a pena lutar, dar vida, esgotares-te… acredita que é aí que eu estou contigo!
Fica bem, continuo sempre contigo…
Teu Pai
P.S. Em cada um dos momentos do teu dia, aconteça o que acontecer, lembra-te sempre que és profundamente amado(a) por mim.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

S. Martinho, padroeiro de Moure e Rio Mau


Quarta-feira, dia 11
18.00h: Missa, em Rio Mau
19.30h: Missa, em Moure

Sexta-feira, dia 13
20.30h: Procissão de velas, em Moure

Domingo, dia 15
9.15h: Missa cantada, em Moure
10.30h: Missa cantada, em Rio Mau
15.00h: Sermão e Procissão, em Moure
16.15h: Procissão e Sermão, em Rio Mau

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Música Profana ou Sagrada?

Ganhei um grupo de novos amigos, em que temos um objectivo comum, o que faz com que nos encontremos todos os dias durante a tarde. Foi uma surpresa haver um Padre entre eles. Aproveitam a oportunidade para satisfazer curiosidades, dúvidas e até desabafos. De entre os desabafos já mencionaram várias vezes o entrave, em algumas Igrejas, às violas e músicas jovens. Lembrei-me a este propósito de dizer o seguinte:
Alguns tendem a categorizar determinadas coisas como sagradas. Apenas aquilo que é sagrado pode fazer parte da vida da igreja. Tudo o que não é sagrado é automaticamente profano, claro. Por exemplo. O futebol é sagrado? Claro que não, logo, é profano. Logo, o crente em Cristo não deve jogar futebol. E assim vão-se separando coisas da vida da igreja. Existe música sagrada, e música profana, e claro que apenas devemos ouvir música sagrada. São criadas regras para identificar o que se pode ou não ver ou ouvir. Regras que criam separação. Regras que transformam de tal modo a igreja, que passado algum tempo já ninguém se identifica com a igreja, apenas aqueles que criaram as regras. As coisas em si não são sagradas ou profanas. Uma faca em si mesma não é sagrada ou profana. Um determinado estilo de música não é sagrado ou profano. O uso que fazemos dessas coisas é que são para edificação ou não. Uma faca pode ser usada para matar, ou para cortar alimentos. A música pode ser criada para gerar efeitos negativos ou positivos. Em vez de regras sem sentido, precisamos olhar para as atitudes, e aceitar que a demonstração de fé de uma pessoa pode usar um estilo de música que nós não gostamos. Desde que Deus esteja a ser glorificado em tudo o que fazemos, então está tudo bem.

A Bíblia

Na Bíblia, Deus dá a conhecer a história do seu amor para connosco. E Deus quer que vivamos como irmãos e como amigos, felizes e libertos, na certeza de que Ele está connosco e nos salva.
A Palavra de Deus é criadora. Pela Palavra de Deus todas as coisas foram feitas e o ser humano é a obra mais admirável que saiu das suas mãos. Queremos que a nossa resposta seja um SIM, ao gesto criador de Deus para connosco.
Deus é amor e não abandona o homem no pecado. A Bíblia é um constante chamamento à vida nova que Deus oferece. Para realizar este Plano de Amor, ao longo dos séculos, Deus fez alianças de fidelidade mútua com o homem. Deus é fiel e espera de nós, fidelidade.
Através dos tempos, Deus renova a Sua Aliança com os homens por meio dos Patriarcas e dos Profetas. Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus mandou o seu próprio Filho à terra. Em Jesus Cristo realizaram-se todas as Promessas e esperanças do Antigo Testamento. Ele é a Palavra de Deus encarnada e viva. É a Luz e a vida. É o centro da história da Bíblia. É o Caminho que nos conduz ao Pai. É a Verdade que guia os nossos caminhos. É a Vida da nossa vida.

Pobreza Envergonhada

Das coisas mais duras que tenho de passar como "patrão" é ter de dizer não a quem me pede trabalho, mesmo sentindo que estou a ser injusto. Injusto, porque não tenho lugar na instituição para mais funcionárias e algumas das que lá estão não merecem o lugar que ocupam. Digo isto sem rodeios. Ainda no sábado passado uma senhora estava à minha espera para me pedir trabalho. O marido trabalha na Espanha e já não recebe à dois meses. A fábrica onde ela trabalhava fechou no fim do mês de Outubro. É uma família como tantas outras que no fim do mês pode não entrar um ordenado e há despesas mensais obrigatórias. Isto é terrível. A pobreza envergonhada está cada vez mais próxima de nós. E é envergonhada, porque não sabemos quem são pela vergonha que têm. Quem não tem vergonha de pedir lá se vai safando, mas quem tem vergonha pode estar a passar grandes dificuldades. É um novo conceito de pobreza. Cabe-nos estar muito atentos e diligenciar no sentido de tornar a vida dessas pessoas menos dolorosa. Estejamos atentos. Há muita coisa que podemos fazer. Seremos verdadeiras comunidades se nos preocuparmos com os outros.

Aniversários: Grupo de Jovens de Moure e Jornal Rio Mau

Estamos no mês de Novembro (para quem ainda não tenha dado conta). Até aqui nada de novo. Só que neste mês faço, dia 14, 10 anos de ordenação de diácono. Mas o que me leva a mencionar este mês nesta postagem é o aniversário do Grupo de Jovens de Moure e também do Jornal Rio Mau. Quero aproveitar este espaço para endereçar os parabéns aos jovens de Moure por aquilo que têm dado à comunidade como grupo. À equipa do Jornal Rio Mau quero também deixar uma palavra de gratidão. Têm sido incansáveis e não tem sido fácil motivar jovens, com tanto trabalho, para mais este trabalho. Todos tem sido formidáveis. Jovens de Comunidades diferentes, mas com o mesmo espírito de serviço.
Não posso terminar estas palavras sem fazer referência à amizade que nos une. Obrigado pelo apoio ao Padre, mas acima de tudo ao amigo. Isso, para mim, é mais importante que tudo. Continuai a dar-vos a Moure e a Rio Mau sempre com a mesma dedicação e espírito de serviço. Conto convosco e podeis contar comigo. A Igreja precisa de vós e vós precisais da Igreja.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Família e amigos: aproveitemo-los!!!

Nas últimas semanas, em Moure, tem sido difícil entrar nos cafés, arrancar um sorriso, até mesmo nas celebrações, já que muitas tem sido missas de 7º dia. Isto tem uma justificação: a quantidade de funerais de gente nova (com menos de 65 anos): O Domingos, o Belarmino, o Joaquim e o António. E isto marca a Comunidade e marca-me a mim. Quanto mais os anos passam mais difícil é para mim ver partir paroquianos, porque cada vez mais vejo partir paroquinaos amigos. E isto acontece por causa do passar dos anos. Sei que tenho de ver a morte de forma diferente. Há quem diga isso, mas por vezes não consigo. E estas últimas semanas tem sido duras e tem doído não só ver partir amigos, mas partilhar sentimentos com as famílias.
Na terça-feira fez 2 anos que o meu pai teve um "pequeno" enfarte. Graças a Deus, a ele e aos médicos ficou bem. E agradeci a Deus ainda o ter comigo. Mas também me invadiu uma reflexão sobre a forma como, inúmeras vezes, não nos conseguimos aproveitar uns aos outros. Quantos jantares ficam por tomar, quantas conversas ficam por se ter, quantos cafés ficam por tomar etc?
Deixo esta reflexão a todos que a lerem, porque com a azáfama da vida nem damos conta que os anos passam e fica tanta coisa por fazer, dizer, pensar etc. Eu vou aproveitar o meu pai, mãe, irmão, cunhada, família e amigos o mais que puder. Penso que já aproveito, mas todos nós, como eu, podemos ser sempre melhores e estar mais presentes. Obrigado, Senhor, pela família que tenho e os amigos que vou construindo.

A propósito dos crucifixos nas escolas

Foi notícia, ontem, a causa ganha por aquela mãe italiana a propósito do sinal cristão nas salas de aulas: o crucifixo. Confesso que em escolas públicas até aceito. Se tivesse um filho na escola que não confessasse a nossa religião, provavelmente não propunha tirar o crucifixo, mas exigiria que ao lado também estivesse o meu símbolo. Por isso, aceito a lei que proíbe manifestações religiosas nas salas de aulas. Agora tentar essa proibição até em escolas privadas, incluindo as da Igreja, acho despropositado e inaceitável. O porta voz da Conferência Episcopal deu o exemplo, com ironia, que ainda vamos ter de mudar o sinal mais da matemática, porque é uma cruz. Eu iria mais longe e daria outro exemplo: é como ir ao cinema ver um filme pornográfico e mandar tirar a "bolinha" que indica um filme para maiores de 18 anos. Incomoda o sinal, mas não o conteúdo. Quem insere um filho numa escola em que a Igreja é proprietária e o seu director padre e exigir que a sala de aulas não tenha o crucifixo encaixa no exemplo que dei anteriormente.
Apenas resolvi deixar aqui a minha opinião acerca deste assunto propalado nos últimos dias e próximos.