sexta-feira, 24 de abril de 2009

«Sr Padre, hoje faço anos. Posso apagar as velas da Igreja?»

Ele anteontem veio ter comigo à sacristia, muito envergonhado, queixo para baixo a olhar para cima. «Sr. Padre, hoje faço anos. Posso apagar as velas da Igreja?». Este pedido não trás nada de anormal ou surpreendente. Mas o porquê do pedido é que nos faz pensar. Os pais deste menino de 7 anos estão na França e ele vive com a avó. Calhou vir à Missa pela alma do avô e viu nas velas da Igreja a única forma de, neste dia, apagar as velas. Isto porque não ia ter bolo nem velas para soprar no dia dos seu anos. Arrepiei-me, contive as lágrimas e anui ao seu pedido. Levei-o a lanchar comigo às bombas, comprei-lhe um bolo e, baixinho, cantei-lhe os parabéns. Tinha um saco de amêndoas que a minha mãe me deu (tradição mantida desde criança, ainda hoje a minha mãe me dá o saquinho das amêndoas por altura da Páscoa) e, ela perdoa-me, dei-lho. Conversamos, rimo-nos, deixei-o falar e à avó também. Despedi-me, entrei no carro e não aguentei as lágrimas. Pensei todo o caminho até outra Comunidade. Quando lá cheguei para o cartório paroquial, já passava 20 minutos da hora. Pedi desculpa. Estive ocupado a fazer algo mais importante. Aqueles que lá estavam à espera, se lerem isto, vão perceber a espera. É que tinha estado com um menino que para apagar velas no dia dos seus anos foi à Igreja. O meu dia terminou com o meu rosto triste, com os olhos envidraçados, mas muito feliz por dentro. Há tanta coisa ao nosso lado que nos passa completamente à distância. Há tanta gente que nós podemos fazer feliz. Na quarta-feira ganhei o dia com este acontecimento e ganhei-o porque me dei. A única coisa que perdi foi um saco de amêndoas. Tomara que os perdesse todos assim.

4 comentários:

  1. Bem, as vezes preocupamo-nos mais com as coisas que acontecem, nos paises do chamado sub-mundo e ao nosso lado, ao nosso redor, aconteçe isto... Acho que teve um gesto divino ao dar um sorriso, aquela criança da forma mais rápida que encontrou. Para mim esses vinte minutos foram essenciais ao sorriso daquela criança.
    Ainda bem, que cá na minha paróquia existe alguém que leva sorrisos ás crianças.

    Mara - Moure

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  2. Bem, as vezes preocupamo-nos mais com as coisas que acontecem, nos paises do chamado sub-mundo e ao nosso lado, ao nosso redor, aconteçe isto... Acho que teve um gesto divino ao dar um sorriso, aquela criança da forma mais rápida que encontrou. Para mim esses vinte minutos foram essenciais ao sorriso daquela criança.
    Ainda bem, que cá na minha paróquia existe alguém que leva sorrisos ás crianças.

    Mara - Moure

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  3. Quantos 20 minutos mal empregues muitas vezes? Obrigado, Mara, pelos silêncios da tuas Palavras e não te esqueças que também tu podes levar sorrisos. Fica bem.

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  4. Sem duvida que não me surpreende até porque vindo de si estas coisas são naturais, se todos nós pegasse-mos em 20 minutos da nossa semana acredito que haveria muitos mais sorrisos na vida, parabéns pela atitude, foi muito bom, ao ler o seu texto quando dei por mim as lágrimas correram-me pela face, e pensei o quanto sou feliz, mas ao mesmo tempo as lágrimas transformaram-se em tristeza que apertou o meu coração ao imaginar a tristeza de uma criança não ter um bolo nem uma bela no dia do seu aniversário. mais uma vez parabéns e obrigado por existir nas nossas vidas.

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