sexta-feira, 3 de abril de 2009

Beleza do amor e juventude aos 96 anos

Ontem visitei alguns dos doentes de uma das Comunidades. Para a semana continuo a visita. Terminei o dia cansado, é certo, mas muito feliz. E não posso deixar de partilhar neste espaço a experiência ontem vivida. Quando visito doentes e idosos, aprendo com eles todos. Por vezes dou comigo a questionar-me se quando nós, mais novos, formos idosos, se vamos ter a capacidade de sofrimento desta gente. Lido com idosos e novos todos os dias, por isso sei o que digo. Cada ruga que encontro e beijo são as maleitas de uma vida de sacrifício, de trabalho no duro, de criar um grande número de filhos, mesmo no meio de grandes dificuldades. Só este tema já teríamos muitos pontos de reflexão. Mas aquilo que quero partilhar é a beleza do amor e a juventude aos 96 anos de idade.
Uma das idosas, com 93 anos, cuida do marido, acamado, com 96 anos feitos este mês. É impressionante. Esta senhora tem a ajuda necessária de quem a substitui nas tarefas de casa e no cuidado do marido. Esse servço é prestado pela instituição à quel presido. Mas ninguém a substitui no amor dado ao marido. Admirar a quantidade de beijos que trocam e falarem-me um do outro como "o meu velhinho" ou a "minha velhinha" e dizerem-me que nunca tiveram uma fala mais alta um para com o outro é algo que tinha de escrever aqui e que deve servir de exemplo para os mais novos.
O outro caso é que ontem joguei à orelhas (cartas) com uma idosa de 96 anos. Se disser que lhe puxei as orelhas, não digo nada de anormal. Ganhar a uma idoda de 96 anos pode parecer fácil. Mas não foi. Mas o mais impressionante é que vim com as orelhas a arder. Ela é terrível. Ganhou quase sempre. ´Mais orelha menos orelha o importante não é isso. Claro que cheguei à conclusão que ou ela é boa jogadora ou eu muito fraco. Mas com 96 anos, jogar às cartas e puxar as orelhas ao Pároco e o Pároco a ela é algo memorável. Conheço gente mais nova de idade, mas muito mais velha que esta idosa. Que lição de vida. Há noite, na cama, lembrava-me dos dois "velhinhos" e ficava comovido e lembrava-me do jogo das cartas e ria-me como um perdido. Até agora a escrever isto me estou a rir. Mas ela paga-mas. Ficou prometida a desforra.

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