É tempo de férias. Os emigrantes estão cá. As crianças tem mais tempo, pois não há escola. Mas... onde estão as crianças? Quando saio de casa bem olho para todo lado, mas não as vejo. Hoje dei comigo a fazer esta pergunta e vieram-me à memória as minhas brincadeiras de infância, passadas com o meu irmãos e os amigos da rua. Na nossa infância as crianças andavam na rua, viam-se na rua. As bicicletas rolavam, a bola saltava e ouvia-se golo. Ouviam-se os gritos: "foge...vem tirar-nos a bola". E vinham, porque não havia campos de futebol. O campo era no parque de estacionamento lá da rua aproveitando estar vazio com as pessoas a trabalhar. As balizas era as janelas das garagens ou das caves. De quando em vez lá havia um vidro partido. Mas respeitava-mos toda a gente e todos nos respeitavam. Os nossos pais assumiam as despeas e nós assumia-mos um miminho mais acelarado ou um castigo. Onde hoje é espaço comercial Feira Nova era um campo de milho e passava um riacho. Não faltavam as cabanas e as lutas de fisga de garampos, opondo rua contra rua. Das 8.30h até as 17.30h, interronpendo para o almoço, não faltavamos à chamada. Há noite, com os pais de cada um de nós à janela ou na varanda, lá andavamos nós. Recordo com saudade esse tempos. É interessante como encontravamos forma de ocupar o tempo. Quando chovia inventava-mos brincadeiras. Não havia Playstation, PSP e computador havia um K7 de um menino de uma família mais abastada. Ora... a chover... o que fazer? Ficar em casa? Sim, mas todos juntos: eu, o meu irmão, o Óscar, o Piscas e o cenoura. Vivía-mos todos num apartamento, por isso não seria fácil ocupar o tempo. Mas era. Que os meus pais me perdoem. Aqui estão as briancadeiras lá de casa:
- A mesa da sala era a mesa de ping-pong, com uma vassoura assente em 2 kilos de arroz de cada lado.
- a sanefa (dos cortinados) era o cesto de basquete. Com uma bola de ténis. Era cesto quando a bola passava entre o tecto e a sanefa e caía por trás da cortina.
- o corredor era comprido... dava para de porta a porta jogar aos remates 1 contra 1.
- Nesse tempo o chão dos quartos era de alcatifa (usava-se)... com giz desenhava círculos redondos que eram os buracos para jogar ao berlinda. Quando o berlinde parava dentro do círculo era considerado dentro. O mesmo se passava ao radicional jogo do triângulo. Também era desenhado.
- O nosso bowling era uns exércitos pequeninos que nos ofereciam com carros e tropas. Montava-mos os exército um de cada lado e com o berlinde procurava-mos derrubar o exército adversário
- A sala também servia de campo de futebol. Jogavamos todos contra todos, com uma cadeira em cada esquina a servir de baliza.
Apenas coloco aqui estas brincadeiras porque acho que é interessante a forma como crianças da cidade, dentro dum apartamento inventavam as suas brincadeiras.
Mas o que me levou, hoje a lembrar disto, foi que agora não se vêem as crianças. Divertem-se sozinhas diante dum televisor ou computador. E se estão a perder desligam e começam de novo. Não aprendem a perder. Há tantos direitos que se costuma dizer que as crianças tem. Nesses direitos devia constar que as crianças tem direito a sujar-se; tem direito a partir, pelo menos uma vez na vida, um vidro a jogar futebol; tem direito a chegar esmorrado a casa de ter caído; de andar "à porrada" pelo menos uma vez; de fugir a alguém que quer tirar a bola; de tocar numa campaínha e fugir, pelo menos uma vez na vida; de jogar às prendinhas ou ao bate o pé; de partir qualquer coisa lá em casa com uma bola; de fazer casinhas para brincar às bonecas ou às famílias, de pegar com o irmão e dizer que foi ele etc, etc. Como repararam quando falo de asneiras digo pelo menos uma vez na vida. Eu talvez tenha feito mais do que uma vez. Por favor... deixem as crianças viver a sua infância. Hoje são crianças forçosamente adultas. Façam-nas sair de casa. Deixai que os velhinhos as vejam a brincar lá fora. Para lá dos livros, da Tv, da internet, das consolas há divertimento.
Recordo a minha infância com muita alegria.
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