sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Político não é Padre

Na azáfama da conquista do protagonismo e da ânsia de mais um voto, há quem diga que falta espaço nos jornais para satisfazer todos os candidatos às eleições que se avizinham. Todos se queixam do mesmo e não há grande volta a dar. Mas o problema não é novo nem é apenas característico à porta de momentos importantes como as eleições.Esta semana li as declarações do padre Federico Lombardi, director da Sala de imprensa da Santa Sé, nas Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais. O sacerdote disse que existem três grupos: “Os amigos que defendem sempre o bispo e a Conferência Episcopal; aqueles que oscilam e têm atitudes intermédias e os que têm uma atitude crítica porque estão inseridos num jornal que transmite informação ideológica e orienta a informação num sentido negativo em relação à Igreja”.Pois bem. Esta ideia pode ser aplicada a qualquer área, embora admita que a Igreja, no seu todo, acaba por ser pouco mimada pelos órgãos de comunicação social, mesmo aqueles que assumem uma linha editorial assente nos valores morais do catolicismo. Fala-se mal, com termos despropositados, dá-se pouco destaque a assuntos importantes, procura- se o passo em falso do padre para criar mais uma novela em torno da sua pastoral. Em suma, a Igreja é pouco querida no seio dos grupos de comunicação, a não ser que um qualquer sacerdote assuma, em público, uma posição 'fora do normal' em relação a temas polémicos, como o aborto, a eutanásia, celibato, etc.. Assim, é-lhe dado todo o tempo do mundo para ele mandar uns 'bitaites' para todos verem, lerem ou ouvirem.Vandalizar ou ignorar, por exemplo em páginas de jornal, a essência da Igreja é um acto de pura irresponsabilidade. Crentes, ou não, todos sabemos o papel que esta tem no equilíbrio da sociedade, os valores morais que transmite, o trabalho social que faz em todos os cantos do mundo ou os princípios que assume. Isto é categórico, não há forma de o negar. Por isso, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, deveria ter mais tempo de antena, sendo- lhe dado espaço para explicar as linhas orientadoras da Igreja em Portugal, as opiniões face aos diversos temas, inclusive sobre os problemas que assolam o país. Tudo isto, claro, sem entrar em politiquices. Até porque Religião e Política são, na minha opinião, dois conceitos incompatíveis quando praticados ao mesmo tempo. Logo, sou contra os padres que querem ser políticos ou políticos que querem 'parecer' padres. Sim, porque o padre até pode ser político, mas o político, por muito bom que seja, dificilmente chegará a padre.Federico Lombardi falou ainda da necessidade das várias dioceses se organizarem ao nível da comunicação. Se não o fizerem, correrão o risco de não conseguirem transmitir a mensagem pretendida. E neste aspecto, a diocese de Braga tem dado passos importantes, com os vários portais na net, ou os constantes comunicados enviados para as redacções. Mesmo assim, salvo felizes excepções, na cidade dos arcebispos há uma preferência por 'A' ou 'B', em detrimento de 'C'. Até percebo esta lógica de entregar 'exclusivos' aos 'nossos', e deixar a 'palha' para todos os outros. Direi que há uma discriminação lógica. Aceito-a, mas não a compreendo. A Igreja fica a perder se não se conseguir afirmar em todas as frentes da comunicação, mesmo naqueles meios onde a religião não é motivo de destaque diário.Olhando a linha do horizonte no que à comunicação social diz respeito, concluímos que, no futuro, só o que é notícia irá ser noticiado. Tudo o resto, irá preencher as páginas de centenas de revistas cor-de-rosa ou pasquins da terra de ninguém. E se a Igreja e a Política quiserem entrar nesta viagem alucinante do combóio das notícias, têm que mudar muito a sua forma de actuar. Os políticos terão que deixar de entupir os e-mails das redacções com comunicados que não interessam a ninguém. Os sacerdotes, os bispos e todos os que têm papel activo no seio da Igreja têm que passar a perceber/ descobrir a importância dela e colocarem de lado o velho princípio de que sendo um trabalho voluntário não se lhe pode ser exigido profissionalismo. Se a própria Igreja percebesse o valor que tem na vida das pessoas de todo o mundo, chegaria à conclusão que, com todo esse 'poder', nenhum político lhe poderia fazer frente.
Texto de opinião publicado no 'Correio do Minho' de sábado, dia 12 de Setembro, por Ricardo Vasconcelos

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